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ESCREVER BEM NO ENEM

Flávio Passos

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Escrever pode ser considerado um dom. Para muitos o é. Para outros, uma tortura, ainda mais quando sob a pressão de uma prova. Para a maioria dos escritores e escritoras, um deleite. Para uns, um exercício árduo, um trabalho. Para outros, um brincar com as palavras. Djavan disse em uma entrevista que algumas de suas canções ficavam “de molho” por até um ano. Já para o escritor José Saramago, “escrever bem é pensar bem”. E, dentre os professores de redação, é unânime que “escrever bem é fruto do ler bem”. Ou seja, em termos diretos, se leio, penso melhor; e, se penso melhor, escrevo melhor.

Aproximando-se os dias das provas da 17ª edição do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), aumenta a tensão dos candidatos. Principalmente, pela importância do exame enquanto pré-requisito para o ingresso em centenas de universidades públicas e privadas, bem como, para diversos cursos profissionalizantes. O ENEM ganhou um status de “maior vestibular do país”, tendo, no entanto, outra formatação que as dos antigos exames, especialmente com relação à abordagem interdisciplinar dos conteúdos e a valorização do conhecimento geral do estudante.

Há anos, a prova de Redação do ENEM tem se tornado uma grande oportunidade de reflexão sobre o país, seja na perspectiva social, cultural e política.  As temáticas propostas nas últimas provas exigem do candidato uma compreensão das problemáticas que envolvem a sociedade contemporânea. Tal compreensão passa pelas dimensões conceitual, contextual e política. No entanto, como parece difícil falar de nós mesmos com desenvoltura, mesmo quando no cotidiano já exercitamos tal habilidade, seja na oralidade, ou mesmo nas redes sociais, haja vista a fartura de comentários que se espalham por postagens dos mais variados assuntos.

Tão importante quanto o domínio da norma padrão da língua escrita, a Redação do ENEM exige outras quatro competências: o conhecimento dos domínios linguísticos para a construção de uma boa argumentação; a escolha e organização das informações em defesa de um ponto de vista; a elaboração de propostas de intervenção para o problema abordado; e, fundamentalmente, a compreensão da proposta da prova, na qual se encontram o tema, os assuntos relacionados, o contexto, os sujeitos, bem como, os conceitos-chaves que precisarão ser aplicados. Tudo isso, dentro dos limites estruturais de um texto dissertativo-argumentativo.

Dentre as sugestões que proponho para que a redação se torne uma construção que ajude o candidato a desenvolver bem a sua tese, destaco:

  1. Uma boa dissertação-argumentativa, conforme os manuais de redação, precisa conter introdução, desenvolvimento e conclusão. Em outras palavras, a redação precisa abordar três aspectos que dialogam entre si: os CONCEITOS-CHAVES explícitos ou implícitos (por exemplo: juventude, mulher, cidadania, direitos, capitalismo, drogas, modernidade, meio ambiente, violência, racismo, vida urbana, etc.); o CONTEXTO no qual o problema proposto se desenvolve (por exemplo, uma cidade, a sociedade brasileira, uma região do país ou continente, determinada época histórica ou instituição, etc.) e os SUJEITOS ENVOLVIDOS, sejam eles indivíduos, grupos, movimentos ou instituições, inclusive, dentre elas, o Estado.
  2. Elaborar um pequeno “esquema” prévio. Mesmo que sejam gastos alguns minutos nessa esquematização, após a leitura atenta da proposta e dos textos de apoio, o redator dialoga com o seu maior parceiro, o cérebro, pontuando, numa tempestade de ideias, os conceitos que irão nortear a argumentação e estruturar os parágrafos, elencando os exemplos (de dois a quatro) que darão substância ao texto, considerando as contradições que deverão ser abordadas, quando o tema o exigir, e percebendo os temas muitas vezes “ocultados” pela proposta na intenção de se avaliar a abrangência de conhecimento do candidato. A tese a ser defendida nascerá desse primeiro movimento.
  3. Desenvolver a redação numa perspectiva dedutiva, partindo de pressupostos gerais, com a conceituação, para o desenvolvimento contextualizado do problema e a construção de soluções, ou já em curso, ou possíveis, implicando os sujeitos envolvidos em ações que vão da realidade micro à sociedade como um todo.
  4. Ao passar a limpo, desconsiderar ser essa ação apenas de caráter estético. Passa-se a limpo, do rascunho para a versão final, além da pontuação e acentuação, muitas vezes descuidadas na primeira versão, também as ideias que ficaram soltas, as luzes subdesenvolvidas em frases desconexas ou incompletas, que podem ser melhoradas ou, até mesmo, excluídas. É o momento de conferir se o tema foi respeitado, se a tese foi defendida, mas também de se redimensionar períodos, tópicos frasais e parágrafos, buscando, assim, garantir a coesão e a coerência do texto.

Tentar adivinhar qual será o tema é um exercício inglório. Melhor, se preparar para uma construção textual que possa ser “aplicada” a diversas temáticas possíveis.

No entanto, a título de exercício, considerando inclusive a abundância de material produzido em jornais, blogs e redes sociais, e também a riqueza de acontecimentos de 2014, sugiro algumas temáticas atuais, como: o destino do lixo e as cidades; a relação entre juventude e seus atos considerados condenáveis pela sociedade; a imagem da mulher negra na mídia; o racismo no futebol; a importância do esporte para a saúde e a integração social; a violência contra a mulher; o estado laico X o estado público; a automedicação; a falta de água e o meio ambiente.

Confie em suas intuições. Esquematize suas ideias. Apresente a sociedade. Construa soluções. E escreva. Como mantra inspirador, cante baixinho as palavras do poeta mineiro: “Deixar a sua luz brilhar e ser muito tranquilo”.

Flávio Passos é professor de Filosofia no Colégio Estadual Carlos Santana, em Belo Campo, Assessor Técnico de Igualdade Racial na Prefeitura de Vitória da Conquista, coordenador do Núcleo Medicina Conquista.  Contatos: br2_ebano@yahoo.com.br

 

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